Devocional Diário o berço evangélico não imuniza.

O berço evangélico não imunizaEu nasci no meio do fogo — e não estou falando do Espírito Santo. Nasci num lar evangélico, dessas famílias que respiram igreja, que têm Bíblia aberta na sala e hino tocando até na hora de limpar a casa. Cresci ouvindo que eu era separada, escolhida, diferente. E sabe de uma coisa? Eu acreditei.Eu acreditava que ser criada na igreja já me colocava alguns degraus acima dos “do mundo”. Fui ensinada que, por estar dentro da igreja, eu já era santa por tabela. Só que ninguém me ensinou que santidade não é genética — é decisão. É guerra.Com poucos anos de vida, já estava envolvida: participando do coral, dançando nos congressos, frequentando vigílias, liderando células. E olha, eu fazia tudo com excelência. Por fora, eu era o exemplo. Mas por dentro… o buraco era fundo.O vírus do pecado não respeita currículo de igrejaA verdade que ninguém queria dizer em voz alta é que o pecado entra sorrateiro, até nas famílias mais “crentes”. Ele entra pela mente, pelas vontades escondidas, pelos silêncios que guardamos com medo de sermos julgados. Enquanto todos diziam “essa menina é uma bênção!”, eu estava em guerra com pensamentos, vontades, desejos… que eu não sabia onde enfiar. Então eu fingia. Fingir virou meu ministério.“Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” Provérbios 4:23A Bíblia mandava guardar o coração, mas o meu já estava entregue — ao orgulho, à vaidade, às vontades carnais. Era como se eu tivesse um pé no altar e outro na lama. Eu sabia falar em línguas, mas também sabia flertar com o pecado em segredo. Eu ministrava com autoridade, mas não vencia nem meus próprios pensamentos.Exemplo bíblico: Samuel era de Deus, os filhos… nem tantoLembra de Samuel? Profeta ungido, separado desde o ventre, voz ativa de Deus em Israel. Mas os filhos dele não seguiram o mesmo caminho:> “Quando envelheceu, Samuel nomeou seus filhos como juízes sobre Israel… mas eles não andaram nos caminhos dele; pelo contrário, inclinavam-se à avareza, aceitavam suborno e perverteram a justiça.”1 Samuel 8:1-3Nem todo filho de crente vira crente. Nem todo líder gera filhos espirituais que temem a Deus. Ser de berço evangélico não nos livra da batalha da alma. Às vezes, só nos treina a esconder melhor. A cultura do silêncio e do medoNa minha infância e adolescência, tudo era “proibido”, mas nada era explicado. Sexo era pecado, mas ninguém falava sobre desejo. Mundanismo era condenável, mas ninguém nos ensinava a lidar com a carência, com a comparação, com a crise de identidade. Então a gente aprendia a pecar escondido — e a mentir bem.A igreja sabia levantar ministros, mas não sabia tratar dores. E foi assim que meu coração foi se enchendo de feridas, de desejos não tratados, de uma vida dupla que só Deus via. E que só Ele poderia curar.Conclusão do capítulo: Crescer na igreja é bênção, mas não bastaNascer no evangelho é um presente, mas não é um escudo automático. A fé precisa ser construída, enfrentada, vivida na carne e na alma. Quem vive de aparência, morre por dentro.Se você, assim como eu, cresceu dentro da igreja mas vive uma guerra silenciosa, esse livro é pra você. Você não está sozinho. Eu também achei que era forte o suficiente pra esconder meu pecado… até que Deus me mostrou que Ele não cura máscaras — só cura quem tem coragem de rasgar o figurino e mostrar a verdade.
Que esse devocional diário tenha te ajudado.